POESIA/ MÚSICA
“Quando a gente canta alguém presta atenção na letra?” A pergunta está na canção “Um dia útil”, de 1998, que já prenunciava as reflexões que levariam o compositor Maurício Pereira a escrever Minha cabeça trovoa – as letras que eu fiz e suas histórias.
No livro, que é seu primeiro projeto literário, Maurício Pereira apresenta suas letras acompanhadas de comentários acerca dos caminhos poéticos e criativos de seu trabalho. São textos em tom de conversa, bem ao estilo do artista, nos quais descreve cenas, pessoas, parcerias, angústias, dilemas, inspirações e influências, além de revelar um pouco do cotidiano de um músico independente no Brasil. Maurício também abre seu baú de memórias ao falar da família, dos três filhos, também artistas, e das amizades. Recorda, por exemplo, momentos em que ninava Tim Bernardes, seu filho mais velho, durante as madrugadas de insônia – e que lhe renderam estrofes e ideias para composições como a própria “Um dia útil” e o sucesso “Trovoa”. Lançada no álbum Pra Marte, de 2007, “Trovoa” foi gravada em 2011 pelo grupo Metá-Metá (na voz de Juçara Marçal), influenciando novas gerações a revisitar a canção. Maria Gadú, A Banda Mais Bonita da Cidade e a dupla Dandara Modesto e Paulo Monarco também fizeram versões nos anos 2000.
Maurício Pereira iniciou sua carreira nos anos 1980 com Os Mulheres Negras, um duo com André Abujamra, com uma pegada vanguardista. São dessa época canções como “Eu vi”, “Elza” e “Purquá mecê”, interpretadas com verve cenográfica em performances irônicas feitas pela dupla. Em 1996, fez a primeira transmissão brasileira de um show pela internet, o que rendeu uma entrada no livro dos recordes. Desde então, o artista lançou seis álbuns solo autorais: Na tradição, Mergulhar na surpresa, Pra Marte, Pra onde que eu tava indo, Outono no Sudeste e o recente Micro, que recupera parte de seu repertório numa parceria com o guitarrista Tonho Penhasco. Sucessos como “Pan y leche”, “Um teco-teco amarelo em chamas” e “Imbarueri” fazem parte desse álbum.
Minha cabeça trovoa – as letras que eu fiz e suas histórias perpassa todo o acervo letrístico do artista, repleto de narrativas sintéticas (como “Mergulhar na surpresa” e “Elza”), cinematográficas (como “Ser boi”, “Penhasco” e “A loira da Caravan”) e, claro, urbanas (como “Eu vi” e “Mulheres de bengalas”). Aliás, o compositor é uma espécie assumida de flâneur paulistano, um cronista e poeta de sua cidade.
Minha cabeça trovoa – as letras que eu fiz e suas histórias vai encantar os fãs de Maurício Pereira, os amantes da poesia e da canção, os apreciadores de histórias sobre o universo musical e os artistas interessados no processo criativo de um dos maiores letristas e compositores da atualidade. Antes de tudo, uma cabeça efervescente, contemporânea, que trovoa.
MINHA CABEÇA TROVOA Maurício Pereira
Maurício Pereira é músico, compositor e poeta. É também jornalista, radialista, dublador, produtor. Com André Abujamra, criou a banda Os Mulheres Negras, que lançou dois álbuns – Música e ciência (1988) e Música serve pra isso (1990). Realizou o primeiro show brasileiro ao vivo via internet, em 1996. Tem seis álbuns solo autorais: Na tradição (1995), Mergulhar na surpresa (1998), Pra Marte (2007), Pra onde que eu tava indo (2014), Outono no Sudeste (2018) e Micro (2022), além de composições para TV e cinema. Também gravou Canções que um dia você já assobiou - vol. 1 (2003) e Carnaval turbilhão (2010), álbuns em que interpreta outros compositores. É reconhecido por seu olhar de cronista da cidade de São Paulo, onde nasceu e vive. Minha cabeça trovoa – as letras que eu fiz e suas histórias é sua estreia como escritor
MINHA CABEÇA TROVOA
Maurício Pereira
Prefácio de Marcelino Freire
Projeto gráfico de Luciana Facchinni
216 páginas
13,5 x 20 cm • 1a edição, 2023
ISBN 978-65-86638-37-0